A ESTÓRIA

PERCY SAMPAIO CAMARGO, nasceu em Gavião Peixoto (Araraquara) no interior do Estado de São Paulo, em 1932, “ano da revolução constitucionalista”, diz orgulhoso. Neto de fazendeiros, filho de um político local getulista relata que começou a interessar-se por política já aos 10 anos, em 1942 quando o Brasil se preparava para entrar na 2° Guerra mundial. Formado em Odontologia pela Universidade de São Paulo (Rua Três rios) em 1958, começou a trabalhar em seu consultório na capital fazendo odonto-pediatria. Em 1961 ele foi chamado pelo seu ex-professor da USP para lecionar na recém criada faculdade de odontologia de Araçatuba onde lecionou até 1969.Neste ano, foi acusado de “fornecer dinheiro e armas roubadas do exército a uma quadrilha de terroristas”. Na verdade PERCY manifestava publicamente nas suas aulas, o seu desacordo com a política adotada pelas autoridades militares. Depois da instituição do AI-5, ele é procurado pelo DOPS, escapa de noite para São Paulo e cai na clandestinidade enquanto sua família permance sendo vigiada em Araçatuba. Depois de meses, sem apoio de nenhum movimento ou partido ele foge à pé para Santos onde embarca para o Uruguay num navio cargueiro. Em busca de ajuda, quase sem dinheiro, se depara com vários e ilustres brasileiros em exílio como o músico Geraldo Vandré. Posteriormente chega ao Chile de Allende, para onde consegue trazer sua mulher e seus três filhos. Instalado em Concepción, leciona na Universidade e envolve-se com a política local, sendo inclusive eleito representante distrital dois dias antes do golpe de 11 de setembro de 1973. Depois do golpe seu envolvimento político põe em risco toda a sua família. Perseguido não só por suas atividades políticas mas por ser brasileiro, é preso e levado ao Estádio de futebol de Concepción, de onde é liberado duas semanas depois e transferido para Santiago sob tutela do ACNUR (Alto Comissariado para refugiados das Nações Unidas). Após quatro meses de longa espera finalmente consegue asilo político na Holanda onde leciona na Universidade de Utrecht até 1979. Com a Anistia decide voltar ao Brasil em 1979, instalando-se em Araçatuba e retomando não só sua carreira acadêmica mas seu envolvimento político, candidatando-se a prefeito e deputado federal pelo PT (não eleito nas duas vezes). Em 1988 dirige o campus avançado da UNESP no projeto Rondon em Humaitá. Em 1990, trabalha pela ONG Iamá, como dentista e formador de agentes indígenas de saúde juntos aos índios Zorós, Araras, Tuparis, Macuraps e Gaviões da Amazônia.Hoje aposentado, ele vive uma vida modesta entre a sua casa no bairro de Pinheiros, São Paulo e seu pequeno sítio na região da serra da Mantiqueira.O percurso de PERCY, seus contos e encontros, fantásticos e inéditos, é um retrato revelador da vida de pessoas que com o avançar da idade não projetam mais uma revolução mas cultivam outros sonhos igualmente grandes.